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André Zahar e Bárbara Melo lançam livros e celebram a palavra em recital no Poço das Artes, no sábado (26)

Foto: Mi Assumpção

No meio do caminho tinha uma pandemia. E a vida parou, entre perdas, restrições e projetos adiados. Mas agora, numa trégua entre momentos mais agudos nas curvas de contágio, a palavra respira e pede passagem para germinar em poesia. E é com esse estado de espírito que os autores André Zahar e Bárbara Melo se reúnem no sábado, 26 de março, para lançarem presencialmente seus livros inéditos. O recital “Quintal de Palavras” será no Poço das Artes (R. Álvaro Macedo, 54 - Poço da Panela, Recife), a partir de 16h. 

O nome do evento remete a elementos naturalistas que aproximam os livros de Zahar (“Todas Palavras Feitas da Terra”, ed. Chiado Books) e Bárbara (“Cada Palavra que solto”, ed. Urutau). Também propõe uma colheita desses trabalhos poéticos que até então, por conta dos períodos de isolamento social, só puderam ser apresentados ao público pelos meios digitais. O recital deste sábado terá formato acústico, aberto à participação de outros poetas e músicos que desejem divulgar seus trabalhos. 

“Quintal de palavras me parece o convite a um encontro em que mãos recebem e ofertam sementes para, juntas, plantarem e colherem poesias. E também para pensar a palavra como geradora de estórias, sonhos e afetos. Esses gestos, vindos das presenças, são a própria ação de ver brotar, nascer a escuta, a alegria, a esperança. Gosto de sentir meu coração animado por querer encontrar as pessoas e, em roda, celebrar modos de escrever e falar de poesia no quintal”, assinala Bárbara Melo.

“Quando chegamos ao nome do evento, entendi que a palavra é nosso território sagrado. Através delas, podemos traçar linhas de fuga, fincar espaços para contemplação e conexões vitais no meio do caos ao redor... Como num quintal”, brinca Zahar.

Durante o evento, os dois vão mostrar obras visuais feitas como desdobramento dos livros ou dos processos criativos de onde se originaram. Também convidarão os presentes para atividades lúdicas em torno do tema “Palavra”. 

O próprio local escolhido para o “Quintal de Palavras” dialoga com essa proposta. O Poço das Artes é um espaço cultural criado em 2009 e renascido em 2016, com exposição permanente de pintura, desenho, fotografia e escultura de Clarissa Garcia e outros artistas. Ali também são realizados shows intimistas (principalmente de música instrumental e choro), brechós, mostras, lançamentos de livros, entre outros eventos.

O ateliê/residência artística fica no Poço da Panela, bairro de importância histórica para o Recife como centro da luta abolicionista. E onde recentemente, os casarões coloniais abrigam cada vez mais ateliês, casas de escritores, pontos de encontro para boemia e efervescência cultural. 


SOBRE AS OBRAS

Cuidadora do ateliê Barbarizá, artista visual, educadora e designer gráfica, Bárbara Melo chega ao “Quintal de Palavras” com o livro “Cada palavra que solto”. Trata-se de uma obra brincante que mergulha na intimidade dos quintais da infância e cartografias afetivas. E que, depois do difícil período de distanciamento social forçado, nos convida a uma reconexão mais profunda e afetiva com os espaços e o outro.

A prosa poética de Bárbara também nos incita, neste seu primeiro livro, a experimentarmos o que pode ser o exercício de se desapegar, soltar, deixar ir, traçar novos encontros, tecer outras linhas de partida e renovar a caminhada. A andar com qualidade de um errante. 

"Cada palavra que solto é um álbum de fotografias, um inventário de viagens, uma coleção de personagens, um diário, um arquivo ambulante de desenhos, um mapa, um manifesto de desapego e coragem. Nasci de novo e precisei escrever para começar a andar na vida. Este livro conversa com isso. Convida para nascer, andar, viver." enfatiza Bárbara.

Já o poeta e jornalista André Zahar buscou inspiração em sítios arqueológicos presentes no Nordeste do Brasil — Serra da Capivara (PI), Vale do Catimbau (PE), Carnaúba dos Dantas (RN), Pedra do Ingá (PB), Lajedo do Pai Mateus (PB) — ao buscar na vivência pessoal do tempo o que há de mais remotamente humano. 

Para alcançar essa poética, optou por escrever “Todas palavras feitas da terra” a mão, usando carvão. Mas em 2020, quando ele se preparava para lançar seu livro inédito, após oito anos de "Mafuá - Autoajuda para Mamutes" (Baluarte Editora-RJ/2012), todas atividades culturais presenciais foram suspensas pela pandemia. E, desde então, Zahar passou a buscar divulgar o trabalho no suporte digital, por meio de videopoemas, lives e outras ações. 

“Fizemos uma pré-venda, em 2020, e uma campanha em 2021 de financiamento coletivo para ajudar no lançamento presencial. O momento agora é de devolver para os apoiadores a força recebida e buscar chegar a um público fora das ‘bolhas’ virtuais”, avalia. 


TRECHOS DAS OBRAS:

Introdução (“Todas palavras feitas da terra” / André Zahar)


No fundo,
todas palavras são feitas da terra.
As trilhas guardam pegadas,
talvez a história esqueça
os melhores nomes.
Nós sabemos de onde viemos
e o que dividimos sob as estrelas.
Semear é trabalho para todas as vidas.
Cuidemos das trilhas da terra das palavras
para os que vão nos colher.

no quintal de casa (“Cada palavra que solto” / Bárbara Melo)

ontem ganhei uma goiaba. a goiaba me faz pensar enquanto como: por fora verdinha, cor toda luminosa, quando lá dentro, o rosa. tem textura que faz barulhos com as sementes. a goiaba é toda musical. doce, bem docinha. enquanto eu comia a goiaba e andava pelo jardim com os croque-croques na boca, escutei um passarinho que saltou da mangueira. goiaba e passarinho estão me deixando apaixonada. quando paixão invade meu coração que é todo trabalhado a essas paisagens, vibro como criança correndo solta entre árvores. já não me vejo lamentando o tempo que perdi, distraída com preocupações desnecessárias. respirar com calma e seguir cuidando dessa natureza. farei poemas.


Michelle de Assumpção

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