Bicentenário de Olho d´Água Um século da chegada da ferrovia a Rio Branco.
Os documentos disponíveis confirmam que o primeiro arruado
surgiu em Olho d´Água, a primeira denominação da atual Arcoverde, há 200 anos.
E, no próximo dia 13 de maio, deveria se comemorar o primeiro centenário do
grande motivo do progresso do atual município, a chegada da rede ferroviária.
Apesar
desta coluna ter tido a oportunidade de destacar esses assuntos (ver http://bit.ly/zLhtfy , http://bit.ly/HoBbpZ ), retomamos o tema para
incrementar informações para um melhor resgate desta memória.
Desde
quando existimos? Que nomes já tivemos?
Quem foi mesmo que sugeriu o nome atual da nossa cidade? O nosso primeiro maior
fator de progresso (a chegada dos trilhos) merece mais atenção? Vamos pensar
sobre estes assuntos?
Comecemos
reproduzindo o documento que parece ser o mais antigo que trata dos nossos
primórdios.
3
março de 1812 - Registro da Provisão de juiz do limite a José Reis de Lima. O
juiz ordinário, presidente e mais senadores da câmara da vila de Cimbres da
nova comarca do sertão de Pernambuco este presente ano, por Sua Alteza Real o
Príncipe Regente nosso Senhor que Deus guarde.
Fazemos saber aos que esta provisão virem, que havendo respeito a José
dos Reis Lima ter sido nomeado pela câmara do ano passado para servir o cargo
de juiz do limite do lugar do Olho D´água e seus subúrbios, como igualmente foi
de presente nomeado pela presente câmara para servir este presente ano o dito
cargo do mesmo lugar acima declarado e conhecerá verbalmente das contendas que
forem entre os moradores do dito seu limite, até a quantia de 400 réis, sem
apelação nem agravo, verbalmente, sem fazer processo e da mesma maneira
conhecerá, segundo as posturas do Conselho, dos crimes e danos e não conhecerá
sobre crime algum, digo conhecerá de contenda alguma de bens de raiz. Não
conhecerá sobre crime algum, porém poderá prender os malfeitores que forem
achados cometendo malefícios em dito seu limite, ou aldeia, ou povoações, ou se
lhe for requerido pelas partes que o prenda, tendo-lhe mostrado mandato ou
querela por que o devam ser e tanto que forem presos os mandarão entregar aos
juízes ordinários. Toda esta jurisdição é concedida pela ordenação, acrescendo
mais o poderem trazer vara, e vencerá os emolumentos que lhe são concedidos,
guardando a forma do regimento. E para constar, mandamos passar a presente, em
vereação de 3 de março de 1812. Eu, João Nepomuceno da Costa Galvão, escrivão
da câmara o escrevi. Leite. Machado. Cavalcanti. Menezes. E não se continha
mais em dita provisão, que bem e fielmente copiei e à mesma me reporto. Vila de
Cimbres, 3 de março de 1812. Em fé de verdade, o escrivão da câmara, João
Nepomuceno da Costa Galvão. Obs. Notas adicionais de Gilvan de Almeida Maciel:
XLIV – A jurisdição do juiz do limite era Olho d´Água e “seus subúrbios”.
Trata-se, com certeza, de Olho d´Água dos Bredos, posteriormente Rio Branco e,
hoje, Arcoverde.
Livro da Criação da
Vila de Cimbres (1762-1867) – Recife, 1985. Pág. 227
Ao que
parece, para se diferenciar de tantos outros lugares que tinham o mesmo nome,
Olho d´Água, 48 anos depois, em 1860, começa a ser anotado como Olho d´Água dos
Bredos, como aparece neste documento do livro de registos de óbitos da igreja
católica.
[1860] - Aos
vinte e quatro de abril de mil oitocentos e sessenta e sete me foi entregue com
encomendado Exmo. Ver. Senhor vigário capitular Joaquim Francisco de Farias o
qual é do teor seguinte: Manda ao reverendo pároco de Cimbres que adiante por
mim assinado, abra no respectivo livro, o óbito de Maria Joaquina Cordeiro,
casada que foi com José Domingos da Silva da Cunha, por ter esta justificação
perante mim, ter a dita sua mulher falecida a trinta de junho de mil oitocentos e sessenta, e ter sido
sepultada na Capela de Nossa Senhora do Livramento da Povoação de Olho d´Água
dos Bredos, filial da referida freguesia de Cimbres. Dado no Palácio da
Soledade aos 11 de abril de 1867. Doutor Faria. E para constar fiz este assunto
que assino. O Vigário Domingos Leopoldo da Costa Espinosa.
Livro de Óbitos
1865-1899 – Cimbres (http://bit.ly/H21aQ6 imagem 21/91)
Sobre o
vigário: Padre Domingos Leopoldino da Costa Espinosa – 1º Vigário da freguesia
de Sant´Águeda de Pesqueira, desmembrada da de Nossa Senhora das Montanhas de
Cimbres em virtude da lei n.º 966, de 1870. Veio transferido desta última
freguesia e ocupava uma cadeira na antiga Assembleia Provincial.
Ruas de Pesqueira.
Recife, 1987. pág. 60. José de Almeida Maciel.
José de Almeida Maciel “seu Cazuzinha", da Loja
Sant`Águeda, em Pesqueira – 1884-1957 historiógrafo que sugeriu a mudança de
nome Rio Branco para Arcoverde.
Do livro Questões de Toponímia Municipal Pernambucana – Recife, 1984 – pág.
114. [de trabalho publicado em “A Região”, de Pesqueira, 15-3-1943]. José de
Almeida Maciel:
A
vizinha cidade do Rio Branco está sem jeito... tem cinco homônimas mais antigas
inclusive uma capital. Voltará ao nome Olho d´Água dos Bredos? Será Utinga?
(u- rio, tinga- branco). Utinga é o nome
de vários engenhos situados nos municípios de São Lourenço, Iguarassu, Ipojuca
e Cabo, também de um riacho afluente do Pirapama, ainda de um outro que
juntamente com o Pitanga constituem o rio Igarassu. Ipu (olho d´água) já é a
denominação de uma cidade cearense. Olho d´Água (sem os bredos) coincide com
seis vilas existentes em São Paulo, Minas, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do
Norte e Pernambuco (município de São Gonçalo):
a prevalência do predicamento de cidade levaria todas elas de rojo. De
qualquer modo a homenagem prestada ao grande vulto nacional o Barão do Rio
Branco desaparecerá, privando Pernambuco do preito de admiração representado em
o nome de um dos seus mais florescentes municípios. A minha sugestão é que se a
revisão vier, o município de Rio Branco, filho emancipado de Pesqueira tenha a
denominação Arcoverde, homenageando o seu eminente filho que também é filho do
antigo município onde nasceu em 1850. Essa homenagem póstuma ao eminente
sacerdote 1º Cardeal da América Latina, estou bem certo, honra e ufana
sobremaneira aos atuais rio-branquenses. A vila de Arcoverde, antiga Mimoso,
voltaria à denominação anterior, mesmo porque há outra vila de Arcoverde, de
nome mais antigo, no município de Campos Novos do Estado de Santa Catarina. Por
sua vez, o velho povoado de Mimoso, do município de Bezerros (ainda será dos
Bezerros?), e que na revisão de 1938 arbitrariamente conservaram-lhe o nome em
duplicata substituída por uma outra que melhor se lhe aplicasse.
No
livro Minha Cidade, Minha Saudade.
Recife, 1972, página 132, Luís Wilson deixou o registro:
1944
- Em 1944, pelo Decreto-Lei Estadual nº 952 de 31 de dezembro de 1943 Rio
Branco teve o seu topônimo modificado para Arcoverde. Homenagem a D. Joaquim
Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, primeiro Cardeal da América Latina, em
1905. Quando da revisão toponímica, realizada em 1943, por força de um decreto federal,
cuja finalidade era acabar (como o fez), com as duplicatas dos nomes de cidades
e vilas, em todo o país, o nome que havia sido escolhido para Rio Branco fora
“Bredos”. Rio Branco não podia continuar, por já existir um nome mais antigo
que o nosso, no Acre. Antônio Napoleão Arcoverde pensou em dois nomes, um dos
quais Tacá. Lembrado pelo historiógrafo José de Almeida Maciel (“seu
Cazuzinha", da Loja Sant´Águeda, em Pesqueira), surgiu o nome Arcoverde.
Esta denominação, no entanto, era, a da vila de Mimoso (o secular Mimoso das
Bulhas, pertencente a Pesqueira), surgiu o nome Arcoverde. A dificuldade,
todavia, era haver também, em Santa Catarina, outra cidade com o nome
deencarregada da Revisão Toponímica do Estado de Pernambuco, solicitou, então,
à Comissão de Santa Catarina, que abrisse mão da denominação de “Arcoverde”
para o Estado de Pernambuco, no que foi atendido. O nosso secular “Mimoso” (que
havia sido também denominado “Freixeira”), voltou ao seu primitivo nome. E,
assim, como homenagem a D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti é que
somos, hoje, Arcoverde.
________________________________________________________
CRONOLOGIA:
1812: Primeiro
dado documental da existência de Olho
d´Água.
1860: O povoado
já ganharia o nome de Olho d´Água dos
Bredos.
1909: Olho d´Água
dos Bredos ganha a situação de vila (Lei Estadual nº 991, de 1 de julho)
1912: Em 13 de
maio é inaugurada a estação ferroviária, já mostrando o novo nome Barão do Rio Branco (que ficou sendo
chamado pelo costume popular de apenas Rio
Branco).
1928 (11 de
setembro): Rio Branco é elevada à condição de cidade e sede do município, pela
lei estadual nº 1931, de 11-09-1928. Instalado em 01-01-1929.
1943 - Na revisão
toponímica Rio Branco tem seu topônimo mudado para Arcoverde, em homenagem a D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque
Cavalcanti, 1º. Cardeal do Brasil e da América Latina. Isto se deu pelo
Decreto-Lei Estadual n. 952, de 31 de dezembro daquele ano de 1943, assinado
por Júlio Celso de Albuquerque Belo, presidente da Câmara Estadual, titular do
governo estadual na ocasião.
Ainda
sobre a Great Western, existem muitas informações tanto nas bibliotecas como na
web (ex. http://bit.ly/H4neHS e http://bit.ly/HkTwz2
). Pela estante virtual adquirimos o livro “História de uma estrada-de-ferro do
Nordeste”, de Estêvão Pinto do qual apresentamos as imagens dos diretores do
tempo da chegada daquela empresa ao nosso município.
O superintendente A.T. Connor e David Simson, presidente da Great Western no período de 1909 a 1913.
Fotos do livro História de uma estrada-de-ferro no Nordeste
No período de 1909 a 1913, que corresponde à administração A. T. Connor
e à presidência de David Simson, prosseguiram os trabalhos ... da linha de
Pesqueira, com a inauguração, em 1911, das estações de Ipanema e Mimoso, num
percurso de trinta quilômetros e, logo no ano seguinte, com a de Barão do Rio
Branco (anteriormente Olhos d´Água dos Bredos e hoje Arcoverde). Essa linha até
Olhos d´Água dos Bredos constituía a primeira seção do prolongamento de
Pesqueira a Flores.
Do livro «História de uma estrada-de-ferro no Nordeste.
(Contribuição para o estudo da formação e desenvolvimento da Empresa The Great Western of Brazil Railway Company
Limited e das suas relações com a economia do nordeste brasileiro)», de
Estevão Pinto, Livraria José Olympio Editora, S. Paulo, 1949. pág. 139.
Pedro Salviano
0 Comentários