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Comunidade do coco legitima processo de registro como patrimônio imaterial nacional

                              Foto: Daniela Pedrosa/Secult-PE/Fundarpe

Expressão afro-indígena, o coco do Nordeste vive, com sua comunidade, a retomada de seu processo de registro, abrangendo suas variações nos nove Estados da região. Neste sábado (19), Pernambuco foi o primeiro a sediar uma reunião de mobilização dos detentores dos cocos. O evento faz parte da instrução técnica para registro dos cocos do Nordeste como patrimônio imaterial do Brasil (Processo Iphan/SEI: 01408.000146/2023-30).

A inscrição do coco no Livro de Registro das Formas de Expressão tem sido uma demanda de mestres e grupos detentores. O evento tem como objetivos tornar público o processo de registro, bem como promover a discussão e a participação dos detentores desse bem cultural sobre o tema. Por meio de um Termo de Colaboração, o Coletivo Jaraguá, da Paraíba, está à frente da instrução técnica do processo de registro após seleção em chamamento público em 2023.

Em Pernambuco, o encontro aconteceu na Escola Técnica Estadual Porto Digital, no Bairro do Recife, na manhã e tarde deste sábado (19), com produção do Coletivo Jaraguá e realização do governo federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e com apoio do Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

A reunião foi conduzida pela coordenadora geral do Coletivo Jaraguá, Marcela de Oliveira Muccillo e pela antropóloga Nina Vincent Lannes, técnica do Iphan na Superintendência da Paraíba. Também participaram Laetitia Valadares Jourdan, consultora técnica do Coletivo Jaraguá; o antropólogo Thiago Santos, responsável pela pesquisa em Pernambuco; a historiadora Thamires Neves, do Iphan-PE; Wanessa Santos, gerente de Política Cultural da Secult-PE; e Marcelo Renan, gerente de Patrimônio Imaterial da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe.

Com recursos do Iphan, a pesquisa para a elaboração do dossiê dos cocos do Nordeste inclui coleta de material fotográfico e audiovisual para realização de um documentário. O estudo faz um levantamento histórico sobre o coco na região, além de pesquisa de campo para mapeamento de grupos e comunidades, nos nove Estados, com a mobilização de uma equipe interdisciplinar de áreas como antropologia, etnomusicologia e história e a participação fundamental de mestres e mestras, músicos, dançarinos e outros membros de comunidades que realizam rodas de coco.

Após a finalização, prevista para junho de 2025, o dossiê e o documentário serão apresentados ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (CCPC), que avaliará a possibilidade de efetuar o registro dos cocos do Nordeste como patrimônio imaterial do Brasil. O CCPC é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para as questões relativas ao patrimônio brasileiro, material e imaterial, criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, a mesma que instituiu o então Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), atual Iphan.

Os cocos do Nordeste compreendem encontros e grupos tradicionais, constituídos de elementos como música tocada e cantada, instrumentos de percussão, dança, improviso, corporalidade, sendo incluído na família do samba, ao lado do samba-de-roda, do caxambu, da umbigada e da embolada, entre outros. A manifestação é uma forma de expressão de ludicidade e religiosidade, com muitos de seus cantos sendo entoados como pontos na jurema, religião de origem indígena com forte presença no Nordeste e que se aproximou da umbanda.

“Estamos falando de uma questão burocrática, mas com objetivo prático, de manter uma prática cultural viva”, lembrou Marcela Muccillo. “Quando começamos a pesquisa parecia que alguns Estados não tinham a brincadeira. Hoje podemos afirmar que o coco está presente em todos os Estados do Nordeste”, confirmou. Ainda segundo a coordenadora, mais importante do que a elaboração do dossiê é conseguir do Estado uma política nacional que se coloque responsável pela salvaguarda do coco; e, dos fazedores dessa expressão, manter a mobilização.

“As pessoas já sabem que o coco é patrimônio”, contou Nina Lannes. “Mas, com o registro, passa a ser dever do Estado proteger, difundir e incentivar a transmissão dessa prática. Permite que as pessoas que trabalham com essa prática sejam respeitadas”, projetou. A antropóloga explicou ainda que o registro abre caminho para a criação do plano de salvaguarda do coco e desenvolvimento de ações como difusão em escolas, projetos de memória, acervos e criação de um centro de referência, sempre com os fazedores dizendo quais são suas demandas para manter o brinquedo vivo.

Após a rodada de apresentação do processo de registro, foi aberta a rodada de interação com o público na qual mestres e mestras, músicos, dançarinos, produtores e outros membros de comunidades que realizam rodas de coco apresentaram suas demandas. E, como não poderia ser diferente, em se tratando da cultura popular, à tarde, além de discutir questões peculiares de suas comunidades, os fazedores deram diversas demonstrações de sua expressão, com muita música e dança.

“Conseguimos, num mesmo momento, unir tantos saberes de detentores de vários territórios do Estado de Pernambuco”, comemorou Wanessa Santos. “Mestres e mestras, brincantes, coquistas, da Zona da Mata, do Agreste, da Região Metropolitana, em sua grande diversidade de cocos de roda, mestre de Alagoas que também veio presenciar esse importante momento, pontuando em cada fala suas diversidades e singularidades e trazendo os desafios desse segmento para que possa ser levantado, junto ao registro de salvaguarda, e, posteriormente, a construção de um plano para o coco de roda”, sintetizou a gerente.

“Momentos como este são importantes para publicizar o papel do Estado na identificação, pesquisa e documentação sobre as tradições culturais”, avaliou Marcelo Renan. “E para explicar, tornar público, para os detentores do patrimônio cultural, quais são os efeitos de uma política de registro, que repercute no apoio financeiro, no acompanhamento dos grupos e das comunidades e no fortalecimento daquilo que já é feito pelos próprios detentores tendo o Estado como parceiro” considerou.

Informações: Fundarpe

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