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'Francisco, El Hombre’ fez show pra ficar na história da banda e do FIG

​Foto: Rodrigo Ramos/Secult-PE - Fundarpe

Como diz o apresentador Napoleão Assunção de forma curta e objetiva sobre o Palco Som na Rural do FIG 2017, “o melhor de tudo aqui neste lugar é a diversidade cultural”. E ela tomou conta do polo localizado no Parque Euclides Dourado na noite desta segunda-feira (25), com o espetáculo teatral As Bodas de Umbigolina Goiabenta (BA), e fechou com chave de ouro com uma apresentação marcante da banda Francisco, El Hombre, uma das bandas independentes de maior destaque no cenário atual. A programação teve ainda shows instigados do Projeto Armazém e do mestre da cultura popular e amigo de Naná Vasconcelos, o Mestre Lourimbau, com sua ancestralidade empolgante.
 
As Bodas de Umbigolina Goiabenta é um monólogo de palhaçaria da atriz Joice Aglae Brondani (BA) e trata de uma palhaça solitária – situação intrínseca à condição humana – que busca preencher esse vazio através e situações e amigos imaginários. Perguntada sobre como surgiu a personagem, a atriz corrige a questão e diz que na verdade, neste caso, o que é foi levado ao palco foi uma máscara. Joice desenvolve há anos uma pesquisa profunda sobre a arte clownesca, a bufonaria e as máscaras da commedia dell’arte. “Eu trabalho com uma linha de palhaço que você vai descobrindo e montando dentro de você. Essa máscara surgiu mais ou menos em 1995, quando eu fiz o meu primeiro curso de palhaço. Com o tempo fui descobrindo as várias facetas de como ela reage a cada espetáculo. Desde lá ela me acompanha, e soa meio como esquizofrenia, mas é assim mesmo. Você fala que é ela, mas ao mesmo tempo é você. Os psicólogos adoram esse assunto”, diz, aos risos.

Risada foi uma coisa que não faltou durante a apresentação. Crianças e adultos de vários idades caíram na gargalhada com as presepadas que a atriz fazia no palco, e elevaram o astral do lugar com a interação que tiveram com a peça. Neste sentido, a atriz não poupou elogios ao público que foi assisti-la durante o Festival de Inverno de Garanhuns. “Quando eu envio a proposta eu explico que se não tiver nenhuma interação com a plateia ela tem 45 minutos. Mas quando acontecem, a peça pode durar uma hora, deixo esses 15 minutos para o improviso. Se as pessoas derem pano, eu vou jogando, e a gente teve aqui um público muito generoso e receptivo. Tive que me segurar pra não ir mais longe, porque sabia que tinha hora pra acabar”, brinca Joice Aglae que levará a montagem para Salvador nesta semana.

Formada por Wagner Albino (guitarra e voz), Antônio Regueira (voz e guitarra), Wander Albino (bateria), Filipe Lima (baixo), a banda de rock alternativo de Pernambuco Projeto Armazém voltou aos palcos do FIG 2017 depois de quatro anos distante de Garanhuns. “A gente tocou em 2013 aqui no Palco Pop e estamos bem realizados com esse show de hoje porque era uma vontade antiga da banda tocar no Som na Rural. De lá pra cá, a gente teve a oportunidade de tocar em outros estados, como Paraná, Ceará, Piauí e Rio de Janeiro, e pegar um pouco dessa experiência de estrada que serve muito para o amadurecimento”, opina Wagner Albino. Com faixas do primeiro EP, o Velório da Lucidez, o show bem montado, com harmonias e sequências de baterias geniais, também bebe muito do novo disco que está em fase de pré-produção e deve ser lançado no Carnaval do ano que vem.

Sobre o Palco Som na Rural, que um mérito seja dado. Napoleão, o apresentador, é uma atração à parte. Mais do que isso, é um formador de público de alta qualidade. Nos intervalos das atrações, não só colocava música pernambucana para tocar, como também contava um pouco sobre a história da canção e da banda que estava sendo executada nos autofalantes. “Essa daqui, lá do Recife, acabou de lançar esse novo EP, chamado Deixar Tu Loks, que está em todas as plataformas de streaming na internet. Eles misturam carimbó com música pernambucana e deu nesse resultado”, explicou Napoleão, pedindo para a mesa de som colocar o disco pra tocar. Nos outros intervalos, saciou a sede dos ávidos em conhecer novas músicas dando destaques aos projetos de Julio Samico e o Circo Voador, Sasquat Man e Carranca. “Eu sempre faço questão de explicar direitinho quem é, quem compôs. Eu exploro o máximo daquela banda no palco porque o público precisa conhecer melhor a música do nosso estado”, disse o apresentador, que também é locutor da Rádio No PE do Ouvido, uma das parceiras do FIG 2017.

Terceira atração da noite, o baiano Mestre Lourimbau é uma daquelas figuras que exala respeito e ancestralidade. Simples, de voz serena e uma paz de espírito forte, o mestre de 69 anos ousa ao ressignificar o lendário e ríspido berimbau no seu uso numa nova música popular, um tanto virtuosa e erudita, mas voltada para o povo. Fundindo o som de seu instrumento ao jazz e à MPB, Lourimbau levou ao público o show do disco A Arte de Mestre Lourimbau e suas novas composições, acompanhado por um conjunto musical composto por contrabaixo (Marcelo Seco), guitarra (Bau Carvalho) e percussão (Mamá).

“Eu acho essa cidade Garanhuns muito aconchegante. Estar aqui e com uma plateia como vocês me deixa muito satisfeito, fico feliz em ter um público tão jovem e bonito me assistindo”, declarou no palco o mestre, antes de tocar as músicas autorais Tábua da Lei e Identidade, além de uma versão de Deixa a Gira Girar, fechando a apresentação.
Com o anúncio de que a próxima banda seria a Francisco, El Hombre, o público se espremeu mais perto do palco. Muita gente se apertava para ver de perto a banda que tem conquistado fãs numa escala meteórica em toda América Latina com a proposta de integração dos ritmos do continente.

Francisco, El Hombre é formada por Juliana Strassacapa, Mateo Piracés-Ugarte, Sebastián Piracés-Ugarte, Andrei Martinez Kozyreff e Rafael Gomes.  Construído a partir da revolução que a banda iniciou com o lançamento do Soltasbruxa (2016), disco mais politizado e maduro que o EP La Pachanga! (2015). O show foi marcado pela postura de embate nas questões atuais da sociedade, como o avanço do fascismo no mundo, a revolução feminista e a simples mensagem de amor incondicional a todos os povos. De que a América Latina é um povo só.

A presença de palco é de deixar os queixos caídos com tanta explosão e pulso acentuado das músicas, feitas de fato para não deixar ninguém quieto. “Essa é a terceira que viemos ao Nordeste, e na primeira vez rodamos a região apenas pegando carona na BR-101 com o violão nas costas. Nesses primeiros shows tínhamos um público pequeno, umas 20 ou 30 pessoas em média. É uma honra enorme participar de um festival com o palco cheio e num parque lindo como esse”, comentou o vocalista, para depois instigar a plateia falando sobre a proposta do conjunto. “Aqui é integração latino-americana, brasileiro falando espanhol, espanhol falando português. Um dos homenageados deste festival é Belchior, a quem devemos muito. Este show é por este motivo dedicado a ele”, ressaltou Mateo Piracés Ugarte, declamando um trecho de Palo Seco e puxando na sequência a música que dá nome à banda e que faz parte do EP lançado em 2015.

Em uníssono, o coro feminino deu gritos libertários durante a música Triste, Louca ou Má, cantada pela vocalista Juliana Strassacapa, ponto alto da apresentação. “Que um homem não te define / Sua casa não te define / Sua carne não te define / Você é seu próprio lar” foram entoados como um mantra libertador. A energia de empoderamento que emanou por todos os cantos da plateia foi algo sincero e único, um momento de união e de entendimento do resgate do papel da mulher na sociedade. Outras canções fizeram parte da apresentação, como a faixa-título do álbum da banda, além das animadíssimas Calor da Rua, Bolso Nada (que no disco teve a participação da Liniker), Tá com Dólar, Tá com Deus e LoboLoboLobo!, entre as as tantas que integram o disco e o primeiro EP. Antes de terminar o show, entoaram O Meu Sangue Ferve Por Você, do cantor Sidney Magal, transformando o Palco Som na Rural numa verdadeira noite de celebração da música latina. 

Marcus Iglesias


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