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A ascendência nordestina

 Ilustração do livro «Viagens ao Nordeste do Brasil», de Henry Koster, livro lançado em 1816.

Qual a origem do homem nordestino? De onde mesmo viemos?

Retomando o trabalho de Borges da Fonseca, a Nobilarquia Pernambucana, o pesquisador Cândido Pinheiro desenvolveu um projeto para resgatar a verdadeira história do homem nordestino, especialmente no período colonial (1530-1815). Para facilitar a compreensão sobre esta volumosa pesquisa, remetemos os leitores a vídeos com entrevista com o autor https://www.youtube.com/embed/15DUAP6gvyU?wmode=opaque e https://www.youtube.com/embed/iX505ySiZt0?wmode=opaquee também entrevista em jornalhttp://www.opovo.com.br/app/opovo/paginasazuis/2013/03/18/noticiasjornalpaginasazuis,3024621/integra-da-entrevista-de-candido-pinheiro.shtml Jornal O POVO de 18-3-2013.
A nova obra, com 10 volumes, começou a ser apresentada ano passado, com "Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto". Recife, Fundação Gilberto Freire, 2013 – 656 p. e “Liras. O nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial” – 610 p. Em julho deste 2014 foi lançado “O crime de Simões Colaço”. 458p. E a previsão é que em outubro próximo será lançado “Lucena” e em novembro “Abrahão Senhor”. Tenho adquirido os volumes lançados através da Fundação Gilberto Freyre. Rua Dois Irmãos, 320 Apipucos 52071-440 Recife - PE Fone 55 81 3441-3348.

                Borges da Fonseca – Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca – nasceu em 1718 e era recifense. Ele morreu em abril de 1786 e foi sepultado no Mosteiro de São Bento de Olinda. Foi governador e capitão-geral da capitania do Ceará, no período entre 1765-1782.
                Produzida em 1748, em quatro volumes manuscritos, a Nobiliarquia Pernambucana é a mais importante obra para os estudiosos da genealogia do Nordeste na época colonial. A obra abrange numerosas famílias portuguesas ligadas à história de Pernambuco.
                O primeiro volume desta Coleção Borges da Fonseca, do Dr. Cândido Pinheiro Koren de Lima, resgata como os Albuquerques chegaram a Pernambuco com o donatário Duarte Coelho e como Jerônimo de Albuquerque, o “Adão pernambucano”, com 36 filhos documentados, semeou seu sangue por todo o território nordestino. O segundo volume da mesma Coleção, “Os Liras: o nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial”, trata da origem da família da Ilha da Madeira, de Portugal. A pesquisa aponta que os antepassados dessa família chegaram a Pernambuco sem cor definida, e acredita-se que ocupavam altos cargos no Santo Ofício de Portugal e Madeira. Os Liras que chegam a Pernambuco logo tomam as cores raciais da capitania. Os chamados “Novos de Lira” possuíam sangue judeu.  O livro narra o casamento de Gonçalo Novo de Lira com uma provável neta de Branca Dias e Diogo Fernandes, este o casal mais denunciado pelo Santo Ofício de Pernambuco (1593-1595). O estudo ainda aponta que Gonçalo Novo de Lira IV se casou com uma mulher da família Pacheco, descendente do judeu Ruy Capão, que trazia da Ibéria além desse sangue, os traços do muçulmano semita e do muçulmano negro da África do Norte.

                Do volume “Albuquerque. A herança de Jerônimo, o Torto”, recortei alguns textos (a partir da página 20), com o convite aos leitores para consultarem a obra:
                «Ao fim dos dez volumes do trabalho, escrito sobre o documentado por Borges da Fonseca, verificou-se que, além do sangue ibérico quinhentista, tem-se:
                80% da população nordestina colonial e por extensão óbvia, a atual, porta em si o sangue judeu, o sangue do nativo indígena, o do negro muçulmano (Rram) da África do Norte e muçulmano semita.
                Quando exclui-se a influência do sangue novo nativo chega-se a notar que 95% de nossa gente possui o sangue judeu, muçulmano semita e muçulmano rramita da África pré-saariana.
                2% da nossa gente documentada, além do sangue judeu, do muçulmano-semita, do muçulmano-rramita, negro pré-saariano, também porta o sangue originário do negro escravo subsaa­riano. Este pode ser originário de Portugal ou da colônia.
                Resumidos:

95 % da população (ibero como aqui chega)
80% da população (com sangue nativo)
2% da população (com sangue negro escravo subsaariano).
3% da população. Sem troncos raciais religiosos identificados

                Para nós, foi decepcionante a quantidade de descendentes do negro escravo do período colo­nial na obra documental da elite nordestina por Borges da Fonseca. É surpreendente o que se viu de descendentes de "negra brasilla" escrava ou forra. Como dir-se-á logo após, quando cá chegou o ibero, e pontualmente outros europeus (italianos, alemães, holandeses e etc), vieram solteiros, precisavam de mulheres e de alianças para dominarem a terra e a seus nativos extremamente mais numerosos. Criaram-se estruturas familiares com os da terra, que apesar de não cartoriais eram assim; deste modo, o nativo foi levado a anexar-se à elite europeia documentada. Ele próprio, o nativo, mais das vezes era elite, poder na terra, com seu DNA de poder intacto. Exemplo disto são as uniões, com filhos de principais da terra de Jerônimo de Albuquerque, Caramuru e Vasco de Lucena. Somou-se DNA de elite europeia documentada com o DNA da elite da terra. Este somatório é que permitiu aos seus descendentes a perpetuação no poder. O sangue principal do nativo não diminuiu a ânsia pela elite e poder do europeu, só reforçou-a. Não há exemplo melhor do que o que foi visto com o primeiro Marquês de Pombal, o homem mais poderoso de Portugal a sua época, o reconstrutor de Lisboa, após o grande terremoto que quase a destruiu.
                Quando o negro escravo subsaariano aqui chegou, encontrou o homem ibérico já enlaçado no sangue nativo. O peninsular já tinha em si o sangue negro (pré-saariano). Este, porém, era sangue de elite, de conquistadores que dominaram a Espanha por quase 8 séculos.
                A dinâmica do processo escravagista na África subsaariana foi terrível. Uma fração mínima dos sequestrados era classe dominante em sua terra. Na África, os mais fortes ajudavam a aprisio­nar e vender os mais fracos para os europeus como escravos. A destruição da estrutura familiar e social na origem, no momento da apreensão, e na hora da venda, acabou com as lideranças deles. Depois, como se deles nada se esperasse além do trabalho braçal e subordinação, foi-se paulatinamente destruindo com chicote, grilhões, fome e assassinatos, geração após geração, todo poder de reação. Moldou-se o DNA do negro escravo subsaariano no nordeste de modo a ser inferior a um animal de trabalho, e muitas vezes pior tratado que estes. A ligação com mulher negra desta origem, sabe-se, ocorreu fortemente. Agora, no entanto, o homem colonial nordestino da elite documentada não precisava mais de alianças, nem desesperadamente de mulheres como quando cá aportou. Suas ligações com escravas negras foram, na grande maioria das vezes, fortuitas, ocasionais, havidas com mulheres submissas, com DNA corrigido para não serem de elite, mas de animais de trabalho. O produto desta união, a não ser em casos excepcionais, não foi elite, não tinha DNA desta, e levará séculos para se corrigir esta brutal seleção natural inversa. Aqui, repetia-se a seleção visando apenas músculos e submissão. O mínimo que se pode fazer agora para contornar o problema é valer-se da educação. Nada mais correto e justo que a prática de quo­tas raciais para os descendentes de negros escravos em escolas particulares ou não, em qualquer nível, inclusive o universitário. Uma política agrária correta para os descendentes destes negros é outra medida que deve ser implementada já, com muito mais seriedade e intensidade, mais do que aquela praticada com nossos nativos. Apesar destes existirem em número pequeno em estado puro, a maioria deles está entre nós, dentro de nós, na elite, no poder. Os negros escravos subsaa­rianos, que aqui chegaram e que tiveram o componente de seu DNA de poder de elite destruído, estão fora desta elite, sua representação nela é mínima. Não possuem qualquer possibilidade, inclusive a de protestar, de lutar. Eles também perderam estas qualidades na terrível obra pra­ticada nas senzalas, e nos quartos escuros e infectos das fazendas e nos troncos de tormento. Os índios nativos em seu estado natural mantiveram as relações familiares. A convivência milenar, o enfrentamento de problemas diários apurou sua classe dominante, as características de poder e elite. Estas características levam à luta e ao protesto. Com isto, eles têm sido mais ouvidos, auxi­liados por uma obra assistencial religiosa mundial que os enxerga, apenas eles, como vítimas, e não entende a maior vítima, o descendente do negro escravo subsaariano, perdido e mudo, que sobrevive muitas vezes vegetante entre nós.
                Nos Liras e nos Albuquerques, dois troncos originários em negros escravos subsaarianos, se sobressaem. O primeiro e o mais conhecido é o originado em Bem Feitinha escrava negra que dá origem a João Fernandes Vieira, havido em um relacionamento casual. O moço tem uma das carreiras mais brilhantes que se tem notícia. Inicia a vida como auxiliar de açougueiro. Com a chegada dos holandeses, a quem adere, começou por ser serviçal deles, e chegou a sócio dos maiorais batavos na terra. Tornou-se o homem mais rico do período holandês. Sua fortuna mul­tiplicou-se quando aderiu à Portugal em detrimento da Holanda, e chefiando civilmente a insur­reição. Vitorioso, recebeu enorme espólio, inclusive, o governo de capitanias e na África. Deixou descendência apenas fora do casamento, que disseminou o sangue subsaariano entre nós.
                Outro tronco de escravos médio africanos destacado nos Liras, nos Albuquerques e Branca Dias é o originário nos Silveiras Bezerras ou Bezerras Silveiras com importante disseminação entre as famílias do Nordeste.
                Nos Lucenas fomos capazes de detectar apenas representantes da descendência de Bem Feitinha, mãe de João Fernandes Vieira  pelo casamento de Maria Joana César filha do supracitado e neta de Bem Feitinha com Jerônimo de César Melo.
                O último ponto deste estudo, e o mais delicado é o que trata das relações extraconjugais, fora do casamento oficial, fortuitas ou familiares, e seus produtos, os bastardos. E a pergunta que se fez sobre o assunto no início do trabalho, que ele tentou responder, era se na Península Ibérica e, por extensão, no Nordeste brasileiro, em um estudo que abrangesse séculos, seria possível que alguém chegasse ao período colonial e, por extensão lógica aos nossos dias sem possuir alguma origem bastarda. A resposta é não. Usando-se a mesma técnica de disseminação de troncos raciais e religiosos muçulmanos e judeus sobre o homem ibérico de início ateu depois católico, que apor­tou no nordeste brasileiro; tentando-se ver a permeação do sangue bastardo originário em padres e freiras ou no homem comum, verifica-se, finalmente, que todos nós possuímos algum tronco bastardo clerical ou leigo. Estes troncos bastardos permeiam por toda elite documentada por Borges da Fonseca e por extensão até nossos dias.

Pedro Salviano

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