(Foto: Ricardo Moura)
Por Cirlene Leite
Na última noite de atrações no palco do FPNC em Sertânia, o forró pé-de-serra de As Severinas surpreendeu. Não pelo já esperado talento das meninas, mas pela idade. Monique, Marília e Isabele, todas com 19 anos, poderiam estar tocando guitarras e baterias, mas preferiram a sanfona, o triângulo e a zabumba. As três se transformaram em As Severinas meio que por acaso. Numa festa em São José do Egito no ano passado, elas pegaram seus instrumentos, começaram a tocar e chamaram a atenção dos convidados. “As pessoas perguntavam se era um conjunto, e a partir daí começamos a pensar seriamente nessa possibilidade”, conta Isabele, a trianguista de As Severinas. Já Munique sempre gostou de tocar e ganhou da mãe a primeira sanfona aos 10 anos. Aos 14, já tocava feito adulta e quanto a Marília, herdou do tio avô o gosto pela zabumba. Em maio, As Severinas completam um ano.
Helton Moura e o Cambaio levaram ao palco uma mistura de estilos e ritmos; “um rock cosmopolita”, como se auto-definem. O grupo é de Arcoverde, com DNA na poesia. Por isso, nas apresentações lembram um pouco de Xangai, Elomar, Lirinha. Mas foi no poeta Zeto, de São José do Egito, que Helton Moura foi buscar inspiração, e o show em Sertânia foi uma síntese desse trabalho. “Somos todos sertanejos, nos criamos ouvindo cantorias e poesias, era natural que fôssemos beber da mesma fonte”, argumenta Vertim Moura, guitarrista do grupo. Por isso mesmo, a empatia com o público, sobretudo mais jovem, foi imediata.
O show de Silvério Pessoa apresentou um pouco do seu trabalho mais recente: o disco “No grau”, que ele leva para a Europa (França e Bélgica) em julho e que o público de Sertânia teve o privilégio de conhecer. As letras das músicas do artista são leves, retratam o cotidiano e passeiam por lugares pernambucanos, como Vitória de Santo Antão, Tabira, Jaboatão ou Recife. “Sou do cafundó do mundo/ Eu sou das brenhas do interior/ Sou de Pernambuco, eu sou”. Canções que pedem paz entre os povos e até no futebol (“Sonho com um jogo sem brigas entre torcidas”), demonstrando outra paixão além da música. Ao Festival Pernambuco Nação Cultural, Silvério conferiu uma missão: “Ele tem uma função praticamente pedagógica de fazer conhecer e refletir o que se produz em Pernambuco. Dá a oportunidade dos pernambucanos descobrirem sua própria cultura”.
E para encerrar o palco da primeira edição do FPNC do Moxotó, em Sertânia, nada como um filho da terra. Cezar Amaral, irmão de Cristina Amaral, fez um show regado a muito forró e transformou a Praça de Eventos num grande baile. Uma despedida com gostinho de quero mais.“Todo o meu trabalho está muito relacionado com essa região, com Sertânia, daí a minha proximidade com o público daqui, mesmo morando no Recife desde 2004”, disse o artista, procurando justificar a identificação dos conterrâneos com o seu trabalho.
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