Vale a pena ler.
Muirá-ubi, agora nome de restaurante, web-rádio, livro, canção etc., vai ganhando espaço como um ícone em nosso município. Essa palavra vem da língua indígena Tupi: Muira significa madeira pra arco eubi representa verde. Daí vem o nome Arcoverde.
Mas, quem foi mesmo Muirá-Ubi? Será que foi uma linda princesinha, filha do cacique Arcoverde, que salvou um português para se casar com ele? Ou era apenas o nome do pai dela, o tabira tabajara? Quando e onde moravam? O que têm a ver com nosso município? E, lembrando esta miscigenação luso-brasileira, qual foi a base da formação populacional do nosso município? Respostas para algumas destas questões já foram apresentadas anteriormente nesta coluna. Ver na web em http://bit.ly/zLhtfy ehttp://bit.ly/ysUcSY . Nesta oportunidade aprofundamos alguns temas sobre outras perguntas.
No artigo Genealogia e linhagem dos Albuquerque – Cavalcanti (Adalzira Bittencourt - Revista Genealógica Latina, Volumes 8-11; pág. 225-233), pode-se ler (pela web em http://bit.ly/xripdy) uma descrição de vários aspectos genealógicos que darão informações interessantes sobre o assunto. Porém, resumidamente, no site http://bit.ly/yCNWC5 tem-se que A história dessa família começa no Brasil colonial, quando da criação pelo reinado de Portugal das capitanias hereditárias, em 1535, como forma de povoar a colônia, protegê-la dos invasores e garantir à coroa a arrecadação sobre suas riquezas... Jerônimo de Albuquerque foi um dos melhores Capitães e uma das figuras das mais notáveis da colônia iniciante, lutando nos Montes Guararapes contra os índios que impediam a ocupação portuguesa e onde perdeu um olho, atingido por uma flecha... Foi feito prisioneiro pelos índios, condenado à morte e uma índia filha do cacique Tabajara, Muira-Ubi, foi selecionada para ser sua companhia na última noite de vida neste mundo, conforme o hábito dos índios. No momento em que se preparavam para devorá-lo ela intercedeu pedindo para não matá-lo. Ele casou-se segundo os ritos da tribo com a índia Muira-Ubi, depois batizada com o nome de Maria do Espírito Santo Arcoverde. Jerônimo de Albuquerque tinha então 22 ou 24 anos. Desta união foram gerados 8 filhos, todos legitimados em 1561. Quis casar-se na Igreja com Muira-Ubi mas a Rainha Catarina da Áustria, que reinava em Portugal durante a menoridade de seu filho Sebastião, recusou obrigando-o a casar-se com Filipa de Melo, filha de Cristóvão de Melo. Assim, com 55 anos casou-se e teve 11 filhos. Além disso, teve também mais 16 filhos bastardos com outras mulheres, brancas, índias, mamelucas e por isso foi também chamado de «O Adão Pernambucano».
O romance/paródia/picaresco, O Tetraneto Del-Rei – Livraria Francisco Alves Editora, 216 páginas, 1982 – Rio de Janeiro – de Haroldo Maranhão (Prêmio Guimarães Rosa de 1980) ironiza aqueles primórdios da colonização brasileira: [Pág. 184] Entre morto comido e morto casado, embora até chegasse a vacilar, acabei por que me casassem, que não vou a casar-me, casam-me. A bugia é fea, bronca e glabra, a mais um homem se assemelha, a um anão, que é breve de estatura, um anão sem carnes, magro anão, em que mais se avulta é o nariz, grosso e espalhado na cara. Não se sabe o que lhe passa à cabeça, que nada diz, ruge como bicho, um ronco que mais ao ronco do pai parece. Caso-me com uma parva, filha de parvo, uma entre mil parvos, um tronco de árvore que cabelos só os tem à cabeça, lisos, negros e de mau cheiro. Ela não desprende o olhar estúpido de minhas vergonhas, fiando em nelas deleitar-se. Tal publicação mereceu algumas interessantes análises que os interessados podem conferir em http://bit.ly/yWG9ge e http://bit.ly/x7jFz7.
O romance/paródia/picaresco, O Tetraneto Del-Rei – Livraria Francisco Alves Editora, 216 páginas, 1982 – Rio de Janeiro – de Haroldo Maranhão (Prêmio Guimarães Rosa de 1980) ironiza aqueles primórdios da colonização brasileira: [Pág. 184] Entre morto comido e morto casado, embora até chegasse a vacilar, acabei por que me casassem, que não vou a casar-me, casam-me. A bugia é fea, bronca e glabra, a mais um homem se assemelha, a um anão, que é breve de estatura, um anão sem carnes, magro anão, em que mais se avulta é o nariz, grosso e espalhado na cara. Não se sabe o que lhe passa à cabeça, que nada diz, ruge como bicho, um ronco que mais ao ronco do pai parece. Caso-me com uma parva, filha de parvo, uma entre mil parvos, um tronco de árvore que cabelos só os tem à cabeça, lisos, negros e de mau cheiro. Ela não desprende o olhar estúpido de minhas vergonhas, fiando em nelas deleitar-se. Tal publicação mereceu algumas interessantes análises que os interessados podem conferir em http://bit.ly/yWG9ge e http://bit.ly/x7jFz7.
No prefácio do livro Gente de Pernambuco, vol.3,pág. 7, de Orlando Cavalcanti (Recife, 2000) lê-se A família Cavalcante de Albuquerque tem origem em Jerônimo de Albuquerque, irmão de dona Brites, esposa do donatário da Capitania de Pernambuco Duarte Coelho Pereira. De Jerônimo procedem as principais famílias do Nordeste. De sua ligação com a índia Maria do Espírito Santo Arcoverde nasceu, como filha mais velha, Catarina de Albuquerque. Estes filhos foram posteriormente legitimados. Por eles grande parte da população nordestina e todos os Albuquerque, Lins de Albuquerque, Albuquerque Maranhão, Cavalcanti de Albuquerque, entre muitas outras famílias levam sangue índio em suas veias.
Jorge Caldeira em A Nação Mercantilista - Ensaio sobre o Brasil. Editora 34 Ltda. 1999.São Paulo, pág. 47 http://bit.ly/yukAIh analisa: A fixação da gente de Duarte Coelho só foi possível graças a uma série de casamentos entre colonizadores e índias... Os colonizadores tinham seu espaço próprio, sua "maloca". Para ela mudaram-se as mulheres indígenas, com destaque para a mulher do cunhado do donatário, Jerônimo de Albuquerque: Muirá-Ubi (mais tarde batizada com o nome de Maria do Espírito Santo Arcoverde - e este último nome foi empregado por alguns descendentes para ressaltar a origem indígena da família), filha de um chefe tabajara. ... A própria rainha Catarina, tutora do rei d. Sebastião, sabia da situação em que vivia Jerônimo de Albuquerque e tentou emendá-la, determinando ao fidalgo que se casasse com mulher a sua altura, sem obter sucesso total. Jerônimo casou-se de fato com Felipa de Melo - assim como as relações com os chefes aliados que tais ligações pressupunham.
Curiosamente vemos que o nome Arcoverde, como revelam alguns pesquisadores, começou a ser usado por André Cavalcanti de Albuquerque, que nasceu em 1753 e faleceu em 1829. Na verdade ele era filho de Simeão Correia de Lima e Vitória de Moura Bezerra Cavalcanti. Possivelmente uma homenagem ao sangue indígena da sua mulher, Úrsula Jerônima Cavalcanti de Albuquerque, que foi realmente da nona geração do Torto com Muirá-Ubi (Jerônimo de Albuquerque e Maria do Espírito Santo Arcoverde)- ver:http://bit.ly/wPoVS1 e http://bit.ly/z1l3oe . Através da primeira filha deste casal é que se chega à citada Úrsula. Ela se chamava Catarina de Albuquerque (a velha) que se casou com Filippo di Giovanni Cavalcanti, nascido em 12 de junho de 1525, em Florença - Itália. Foram pais de Antônio Cavalcanti de Albuquerque que, em 1580, em Olinda, casou-se com Isabel de Holanda Góes e tiveram Isabel de Holanda Cavalcanti de Albuquerque. Esta se casou com Manoel Gonçalves Cerqueira e tiveram Antônio Cavalcanti de Albuquerque que, casado com Margarida de Souza foram pais de Leonarda Cavalcanti de Albuquerque. Leonarda se casou com Cosme Bezerra Monteiro e tiveram Brásia Bezerra Cavalcanti de Albuquerque. Do casamento desta com Manoel de Araújo Cavalcanti nasceu Maria de Araújo Cavalcanti de Albuquerque (faleceu em 1753) que se casou com Manoel Leite da Silva (faleceu em 1791) e tiveram Luiz Cavalcanti de Albuquerque (nasceu em 1728 e faleceu em 1780) que se casou com Maria Tereza da Soledade, sendo pais de Úrsula Jerônima Cavalcanti de Albuquerque. Úrsula casou-se com André Cavalcanti de Albuquerque em Conceição da Pedra (hoje Pedra-PE).
Nelson Barbalho, em Caboclos de Urubá (Recife, 1977 – Cap. 27, pág. 115), esclareceu: O capitão André Arcoverde foi tronco de várias famílias pesqueirenses, dentre as quais evidenciam-se as Cavalcanti de Carvalho, Arcoverde, Brito Cavalcanti, Albuquerque Cavalcanti. Dos seus 13 filhos, seis adotaram o cognome da família — Cavalcanti de Albuquerque, mas os outros procuravam, entre avós, bisavós e tetravós, designações afins, dai aparecendo os Drummond, Correia Cavalcanti, Oliveira Pessoa, Alves Melo, Bezerra Cavalcanti, Brito, Tenório de Albuquerque, etc.
André começou a assinar seu nome como André Arcoverde e seu terceiro filho recebeu o nome de Jerônimo de Albuquerque Arcoverde Camarão. Este se casou com Tereza de Siqueira Cavalcanti (moça integrante do grupo familiar chamado «Os 20 de Pesqueira»), e o 4º. filho deste casal foi Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti (1822-1870), o Capitão Budá, proprietário da Fazenda Fundão, que se casou com Marcolina Dorotéia Pacheco Couto (filha do pioneiro Leonardo Pacheco Couto. Verhttp://bit.ly/pNi9BD). Deste casal nasceu, entre outros filhos, Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o Cardeal Arcoverde, já na décima segunda geração do Torto e Muirá-Ubi.
Assim como nosso município passou a se denominar Arcoverde em homenagem ao primeiro Cardeal da América Latina, outro município de Pernambuco passou a ter o nome de Tabira, que foi o pai de Muirá-Ubi. O nome Espírito Santo, conservou-se até 1938, quando o governo do estado, fazendo revisão em alguns dos nossos topônimos, mandou à nossa vilazinha, o emitente historiador Mário Melo, que juntamente com as lideranças locais, acordaram na mudança para Tabira. Era uma homenagem, sem dúvida, ao velho cacique da outrora Marim dos Caetés, e depois Olinda de Duarte Coelho, de nome Muirá-Ubi (Arcoverde), que teria sido, para alguns dos nossos historiadores, o lendário Tabira, da Tribo dos Tabajaras, aliados dos portugueses contra os holandeses. Em http://bit.ly/wavCvk.
Agora vamos à mistura de gentes que hoje forma o nosso município de Arcoverde. Em Cronologia Pernambucana. Subsídios para a História do Agreste e do Sertão. 10º vol. Recife. 1983. Pág. 198– Nelson Barbalho registrou: ...no princípio do século XIX, o elemento branco ainda constituía a minoria (forte) de sua sociedade; e o mestiço – ali considerado cabra, cabrocha, mulato, cabelo-mal-com-Deus, moreno – formava a grossa maioria desunida entre si, pobre, desorientada e, consequentemente, fraca. Seu número de pretos equivalia, mais ou menos, ao de índios, com esta diferença fundamental: dia a dia a tendência destes era de diminuir, enquanto a daqueles era de aumentar. Os donos das terras agrestino-sertanejas eram os brancos; os trabalhadores escravizados eram os pretos e alguns índios; e os trabalhadores considerados livres, embora paupérrimos, eram os mestiços. Regra geral, os brancos eram portugueses ou descendentes diretos de lusitanos, constituindo exceção rara o branco puro nascido de pais oriundos de outras nações europeias. Os mestiços agrestino-sertanejos eram produto do cruzamento de portugueses com negras africanas, ou de portugueses com crioulas, ou de portugueses com índias tapuias, ou de portugueses com mestiças luso-brasileiras ou afro-lusitanas, ou ainda de próprios mestiços com africanas ou com outras mestiças. Os africanos, em grossa maioria, eram importados de Angola. Essencialmente brasileiros só havia os tapuias, cariris, embora já se considerassem puramente nativos do Brasil vários grupos, numericamente expressivo, de mestiços filhos e netos de outros mestiços. Este o panorama sócio-populacional do agreste e do sertão agora em 1806....
A partir desses dados é possível chegar a um conceito mais próximo da realidade para um melhor entendimento da origem do nosso povo.