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Carta ao Sr Antonio João Dourado


Foto: Antônio Souza


Carta ao Sr Antonio João Dourado

Por ANTÔNIO SOUZA

Caro Senhor

Fiquei estarrecido ao ouvir gravação em que V. Sª. tece comentários desairosos sobre o Sr Givaldo Calado e como falou, outras famílias de prestigio de Garanhuns.

Vossa senhoria cometeu um grande erro estratégico, vossa senhoria é um Napoleão às avessas. Política em cidades de gente esclarecida necessita de bastante tirocínio, bastante agudeza de pensamento, boa dose de intelectualidade e, acima de tudo, humildade. Humildade, pelo visto, vossa senhoria não tem. É mais um daqueles boçais que pensam que jogando dinheiro a rodo numa campanha lograrão êxito.

Primeiro erro: aceitou sair do vosso município para se meter numa aventura desmedida, submetendo-se a vontade de outrem, violando, com certeza, a sua própria vontade.
Segundo erro: chegou em Garanhuns de maneira sorrateira, furtiva, à sorrelfa, como um gatuno que se esgueira na penumbra procurando pegar os incautos de surpresa.
Terceiro: a campanha nem começou, e já desandou a falar mal de pessoas do próprio partido e, o que é pior, fazendo comentários jocosos a respeito de algo basilar na sociedade: a família do seu concorrente.

Quarto erro: deixou-se encantar pelo canto da sereia, o canto da sereia que ecoa entre sete colinas e coberta de névoa que lhe empresta um ar único no nordeste. Não esqueça que o canto das sereias prolongou a viagem de Ulisses, enchendo-o de tormentos, conforme descrito na odisséia.

Caro senhor: seria de bom alvitre que vossa senhoria, munido de bom senso, coisa não demonstrada até agora, fizesse uma revisão nos postulados que estão a nortear a sua pretensa candidatura, descortinasse o horizonte cinzento que se aproxima e, desistisse dessa aventura que está se tornando grotesca no feitio e na tonalidade.

Garanhuenses, com certeza, não comem em “cocho”, não têm rabo preso a nenhuma cerca, nem tampouco se submetem a vontade ditatorial de ninguém, pois há noventa e cinco anos faleceu o último coronel da nossa política. O nosso povo não se submete dos poderosos, mas caminha em direção aos seus credos, haja o que houver, mesmo sob ameaças, desconhecendo, inclusive, as promessas de investimentos de última hora, como se, sob a égide dos anuns e águias representadas na nossa bandeira, se abrigassem pessoas que acreditam na existência do saci-pererê, da mãe d’água, mula sem cabeça e demais criações da mente popular.

Garanhuns é pela própria essência, pelos valores do seu povo, pela sua capacidade de produzir cultura, pela agilidade mental das suas camadas intelectuais, terreno intransponível por aventureiros e oportunistas de ultima hora.

Contente-se com sua Lajedo, procure ser feliz entre os seus. Aqui vossa senhoria jamais passará de um forasteiro, um aventureiro inconseqüente que premido pelas circunstâncias, aceitou violar-se para atender a necessidade de afirmação de terceiros.

Garanhuns, 07 de Março de 2012, às 22h29min

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